Amefricanidade, nanorracismo e outros: organização lança glossário de relações raciais
Publicação do Observatório da Branquitude reúne conceitos e definições de 39 termos técnicos
Por Redação
28|11|2024
Alterado em 28|11|2024
Nesta terça-feira (26), o Observatório da Branquitude, iniciativa dedicada a produzir conhecimento com foco na racialização, lançou um glossário de termos de relações raciais. A publicação reúne conceitos e definições de 39 termos técnicos, como amefricanidade, colonialidade e epistemicídio.
Segundo a organização, o objetivo do glossário é oferecer ao público informações em linguagem simples e objetiva para a ampla compreensão sobre o sistema da branquitude e suas complexidades.
“O cerne do trabalho do Observatório é gerar reflexão e instrumentalizar essas discussões para que possamos, com base em dados e incidência estratégica, nos mobilizar de forma mais assertiva por mudanças estruturais em prol de populações historicamente violentadas, como é o caso da população negra no Brasil e no mundo. O glossário é uma pequena contribuição para a pavimentação desse caminho, dando definição e contorno às desigualdades para que elas possam ser combatidas”, explica Manuela Thamani, co-diretora executiva do Observatório da Branquitude, em nota enviada à imprensa.
Confira alguns termos explicados no glossário:
Amefricanidade: a categoria centraliza a experiência afrodescendente como ponto crucial na construção das Américas, em um resgate de uma herança proveniente do continente africano como uma chave de interpretação histórico-cultural, especificamente sobre a formação do Brasil. A pensadora Lélia Gonzalez, ao trazer o conceito de amefricanidade, reorganiza os eixos formativos da população brasileira ao destacar que a sociabilidade neste território decorre de uma influência negra diaspórica nítida na linguagem, alimentação, música e em outros aspectos culturais. Consiste, assim, em uma crítica à matriz branco-europeia colonial como único paradigma explicativo para a formação do país.
Branquitude: posição ou lugar racial de privilégio em contextos sociais, econômicos e políticos, independentemente da consciência racial, visto que o indivíduo branco é frequentemente percebido como a norma universal de humanidade. Este termo surgiu da compreensão do branco como uma posição racializada, mas socialmente vista como a essência da humanidade. Originário dos estudos críticos de branquitude (critical whiteness studies), popularizados nos Estados Unidos durante os anos 1990, o conceito foi estabelecido no Brasil através das pesquisas de Cida Bento (2002).
Nanorracismo: ações diárias quase imperceptíveis que permeiam e segregam indivíduos negros e brancos. Achille Mbembe (2021), em “Políticas de inimizade”, focaliza as ações intencionais que desconsideram os indivíduos negros e menosprezam suas capacidades. Ao contrário da conceituação de “racismo à brasileira” (ver verbete), em que o racismo é muitas vezes percebido como prática sem intenção, no nanorracismo essas pequenas ações que delineiam “lugar de branco” e “lugar do negro” são intencionais e têm propósitos raciais de diferenciação.
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